sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Momentos Sentidos!

Momentos Sentidos.
Havia casa com três mulheres, mas sem ser uma casa totalmente feminina. Não era uma casa cor de rosa, mas sim uma casa colorida, com coisas e cores misturadas, entre velharias valiosas e quinquilharias coloridas de plástico ou não, entre tapetes persas e tapetes de feira hippie, coisas de sebos, brechós, boneca de vitrine com direito a troca de vestuário, cabelo e acessórios, coisas da Europa, do México, Panamá, cidades do mundo inteiro. Era uma casa certamente com milhares de fotos espalhadas por todos os cantos possíveis, uma casa com vários cheiros diferentes... Casa com taças de cristal e talheres de avião, com três rosas todo dia 19 do mês, e sempre, sempre, sempre muita música. Entre cães e gatos, uma casa sempre cheia de vida, cheia de informação, cheia de cheiros, cheia de sons. O mais importante, uma casa sempre com barulho de gargalhadas... O silêncio nunca predominou nem por um instante que fosse essa casa.
Durante todos esses anos ela nunca pôde imaginar a mesa do café da manhã posta apenas com um prato, uma caneca. Nunca pôde imaginar uma mesa posta em silêncio e tão solitária... Pois é que a caçula recentemente casou, e a do meio já havia saído de casa... E quando hoje pela manhã, quando a menina-mulher do meio das três originais da casa acordou não na SUA casa hoje pela manhã, mas na casa original, sentiu o vazio da mesa do café da manhã... Foi uma sensação estranha, e que mesmo sabendo que as coisas eventualmente seriam assim, ou que, aliás, já estavam assim e que não era plena “novidade nova”, apenas hoje sentiu pela primeira. Não foi uma sensação de tristeza, veja bem, ela está feliz por ter sua vida, sua casa, seus bichos, seus cheiros e sons e gargalhadas, está feliz pela caçula recém casada, mas por um instante sentiu uma profunda saudade da mesa posta para três mulheres, três flores, três meninas... sentiu falta do barulho, dos cheiros, dos sons. Sentiu falta das palhaçadas, das viagens, dos momentos das três meninas. O amor entre elas certamente é eterno. Certamente o laço criado entre elas é humanamente impossível de ser rompido. Certamente é algo incrível, saudável, forte, base da vida, espontâneo, esplêndido, impossível até de ser descrito. E a saudade não é desse laço propriamente dito, este perpetua, está presente diariamente. A saudade foi uma coisa extremamente pontual, focal. Ela olhou para o prato solitário, teve vontade de colocar mais 2 ao lado apenas para sentir um pouco mais essa sensação gostosa que se fez presente durante tantos anos na sua vida. E assim o fez. Tomou café da manhã sozinha fisicamente, mas com mais 2 pratos e 2 canecas lhe fazendo companhia, e ela garante que estes emitiram sons, gargalhadas, exalaram cheiros, contaram piadas, pediram para passar a geléia, tomaram Nescau e café preto sem açúcar pingado com leite.
Ela também garante que foi um dos cafés mais prazerosos dos últimos anos.
Foi também o primeiro vazio sensacional, o primeiro vazio solitário que lhe proporcionou uma alegria incomensurável.
Ela agradece imensamente aos dois pratos e canecas e acredita fortemente que as coisas não mudaram tanto assim. Basta sentir. Momentos sentidos são mais fáceis de serem lembrados do que os momentos apenas vividos.
Viva, mas não se esqueça de sentir.